O marketing digital antes era sobre cliques — agora, com o ChatGPT, é “sobre vencer nas menções”

Com a ascensão dos modelos de linguagem generativa, como o ChatGPT, o comportamento do consumidor e as estratégias de marketing digital estão mudando rapidamente. A busca por palavras-chave está perdendo espaço para algo novo: a busca por menções e reputação de marca dentro das conversas de IA.

A revolução do consumo mediado por IA

Consumidores estão começando a fazer compras diretamente com a ajuda de ferramentas como o ChatGPT. Isso significa que as estratégias tradicionais de otimização para mecanismos de busca (SEO) precisam evoluir — afinal, as pessoas não estão apenas pesquisando no Google, mas pedindo recomendações diretamente a inteligências artificiais.

A tendência ganhou força depois que um executivo da Apple revelou que a navegação pelo Safari caiu pela primeira vez em 20 anos, atribuindo essa queda à migração de usuários para os grandes modelos de linguagem. Embora o Google negue perda de tráfego, dizendo que o número de buscas continua crescendo, dados independentes mostram o impacto crescente da IA generativa.

Um levantamento feito pela empresa Datos mostrou que, entre outubro e janeiro, a Amazon foi o domínio mais visitado a partir do ChatGPT, responsável por 9,13% de todo o tráfego gerado por pesquisas dentro da ferramenta.
No geral, sites de e-commerce representaram 12,65% desse tráfego, atrás apenas de sites de notícias (21,42%) e de publicações acadêmicas (17,81%).

Do SEO tradicional ao “SEO conversacional”

Essa mudança está forçando profissionais de marketing a repensar a maneira de atrair visibilidade para suas marcas. Até agora, as práticas de SEO focavam em palavras-chave, velocidade de carregamento de páginas e responsividade mobile para garantir destaque nas buscas.

No entanto, com o avanço dos LLMs (Large Language Models), é preciso otimizar o conteúdo para consultas investigativas feitas por IA, que buscam respostas completas com base em menções de terceiros — como postagens em redes sociais, fóruns (Reddit, X) e avaliações de consumidores.

Como explica o diretor de marketing Yaron Litwin:

“Até recentemente, o marketing digital era sobre conquistar cliques. Agora, com os grandes modelos de linguagem, é sobre conquistar menções.”

Em outras palavras, não basta mais ter um bom site: é preciso garantir que a marca seja citada positivamente em vários contextos online.

O impacto na forma de busca e compra

Hoje, quando um usuário pede à IA indicações de “melhores tênis de corrida”, a resposta vem em formato de conversa contextualizada, explicando por que cada modelo é a melhor opção para aquele tipo de consumidor. Isso exige conteúdos claros, bem estruturados e representativos da identidade da marca, capazes de “alimentar” corretamente as inteligências artificiais com informações precisas.

Erik Huberman, especialista em marketing, ressalta que essa mudança ainda está em estágio inicial, mas é inevitável:

“Ainda não vimos uma queda preocupante no tráfego orgânico, mas sabemos que ela virá. Por isso, já estamos nos preparando.”

A nova fronteira: reputação e narrativa de marca

Com o crescimento das interações mediadas por IA, empresas estão buscando entender como suas marcas são percebidas pelos algoritmos. Plataformas especializadas em otimização para IA já simulam milhares de conversas com modelos generativos para mapear a presença digital de cada empresa.

Christine Wetzler, presidente de uma agência de relações públicas e marketing, resume bem essa nova era:

“A credibilidade agora é construída fora do seu site. As marcas precisam cultivar narrativas consistentes e histórias autênticas.”

Isso inclui criar conteúdo estratégico e relevante em blogs, artigos, vídeos e avaliações, reforçando a autoridade da marca. Como afirma Lauren Petrullo, CEO de uma empresa de marketing digital:

“Este é o novo outdoor digital. Se sua marca não estiver bem representada, a IA preencherá as lacunas — e muitas vezes de forma imprecisa.”


Como as marcas podem se adaptar à nova era da busca por menções

À medida que os grandes modelos de linguagem (LLMs) ganham relevância no comportamento de compra, o papel do marketing de conteúdo passa por uma transformação profunda. O objetivo agora não é apenas ser encontrado, mas ser lembrado e citado com credibilidade dentro das respostas geradas por IA.

1. Crie conteúdo confiável e contextualizado

As inteligências artificiais aprendem com o que encontram na internet. Isso significa que cada artigo, postagem ou comentário sobre sua marca contribui para a forma como a IA irá descrevê-la nas respostas.
Empresas que produzem conteúdo original, educativo e bem referenciado têm maior chance de aparecer nas recomendações dos modelos generativos.

O ideal é investir em conteúdo que reflita autoridade e consistência, como:

  • artigos de blog explicativos sobre o setor de atuação;
  • materiais de opinião assinados por especialistas da empresa;
  • depoimentos e estudos de caso com provas reais de desempenho;
  • respostas detalhadas em comunidades como Reddit ou Quora.

Essas ações ajudam a construir o que os especialistas chamam de “capital semântico da marca”, ou seja, o conjunto de informações confiáveis que formam a base das respostas fornecidas pela IA.

2. Aposte em SEO conversacional e otimização para IA

O SEO tradicional ainda é importante, mas agora deve ser complementado por uma nova camada: o SEO para IA.
Isso envolve entender como os modelos de linguagem interpretam consultas complexas e estruturam suas respostas.

Algumas estratégias incluem:

  • Formatar o conteúdo com perguntas e respostas (como FAQs e subtítulos explicativos), facilitando o entendimento pelos modelos generativos.
  • Usar linguagem natural e contextualizada, em vez de apenas palavras-chave rígidas.
  • Garantir consistência entre o conteúdo do site e das redes sociais, para reforçar o alinhamento de informações.
  • Monitorar menções em plataformas como Reddit, X (antigo Twitter) e fóruns de nicho, que influenciam fortemente as respostas de IA.

Essa prática é chamada de “otimização semântica” — e tende a substituir gradualmente o antigo foco em backlinks e densidade de palavras-chave.

3. Fortaleça sua presença em ecossistemas de terceiros

Se antes o objetivo era ranquear no Google, agora é ser citado pela IA como fonte confiável.
Para isso, as marcas precisam estar presentes e bem avaliadas em múltiplas plataformas.
Avaliações de clientes, matérias em veículos de imprensa, posts colaborativos e até interações positivas em redes sociais ajudam a IA a reconhecer uma marca como relevante.

Empresas que negligenciam essa presença digital correm o risco de ter suas descrições distorcidas ou incompletas pelos modelos generativos.
Como alertou Lauren Petrullo, “a IA preencherá as lacunas — e nem sempre de forma precisa”.

4. Humanize sua narrativa de marca

Apesar de toda a automação, o fator humano continua sendo o maior diferencial competitivo.
Os modelos de linguagem valorizam conteúdos que transmitam histórias autênticas, coerentes e emocionalmente conectadas ao público.

Por isso, investir em brand storytelling — histórias reais que reforcem os valores e o propósito da marca — torna-se essencial para se destacar nas respostas geradas por IA.

Boas práticas incluem:

  • apresentar histórias de bastidores e pessoas por trás da marca;
  • usar linguagem acessível e empática, sem jargões corporativos;
  • conectar cada ação da empresa a causas sociais, ambientais ou culturais.

A inteligência artificial consegue identificar esses traços de autenticidade e tende a destacá-los em suas recomendações.

5. Mensure a nova performance: de cliques a menções

Com o avanço das buscas mediadas por IA, as métricas tradicionais de tráfego orgânico não bastam mais.
O sucesso digital agora depende da capacidade de medir quantas vezes a marca é mencionada, citada ou referenciada em contextos relevantes.

Ferramentas de monitoramento de reputação digital e de análise de sentimento passam a ter papel central nas estratégias de marketing.
Em vez de apenas acompanhar visitas, é preciso entender:

  • como a IA está descrevendo sua marca;
  • em quais contextos ela aparece;
  • quais atributos ou produtos estão sendo associados a ela.

Essa visão mais ampla ajuda as equipes de marketing a corrigir percepções incorretas e reforçar mensagens-chave, moldando proativamente a forma como os modelos generativos aprendem sobre o negócio.


O futuro do marketing: IA, reputação e autenticidade

O cenário do marketing digital está entrando em uma nova era — menos sobre algoritmos e mais sobre relações.
Em vez de otimizar apenas para buscadores, as empresas precisam nutrir um ecossistema de confiança e coerência, onde cada menção, comentário ou avaliação contribui para a imagem que a IA vai reproduzir.

A regra é clara: marcas que investem em credibilidade, conteúdo relevante e consistência de narrativa sairão na frente.
Enquanto isso, aquelas que dependerem apenas de anúncios pagos ou do velho SEO podem acabar invisíveis — não só no Google, mas também nas respostas das IAs que já estão definindo o novo comportamento de consumo.