Como Funciona o Product Placement em Filmes?

Você já percebeu como seu personagem favorito de uma série sempre usa a mesma marca de roupa? Ou como, em grandes produções de cinema, o herói invariavelmente atende um celular de uma marca específica? Pois é — isso não acontece por acaso.

Esse recurso é chamado de product placement, uma estratégia de marketing tão bem inserida na narrativa que, muitas vezes, nem percebemos que estamos sendo impactados. Trata-se de uma forma de integrar produtos reais em filmes, séries ou jogos, fazendo com que eles chamem nossa atenção sem interromper a história — e, claro, influenciando percepções e desejos de consumo.

Hoje, o product placement está em tudo. Em alguns casos, a publicidade é tão evidente que praticamente invade a cena. Em outros, é tão sutil que passa despercebida, mas ainda assim funciona.

Neste artigo, você vai entender como o product placement funciona, como surgiu, quais são seus tipos, vantagens, riscos e os exemplos mais famosos da história do cinema e da TV.


O que é Product Placement?

Product placement é uma técnica de marketing na qual marcas inserem seus produtos dentro de filmes, séries, novelas, reality shows e até videogames. Essa exposição acontece de forma integrada à narrativa, sem interromper a experiência do espectador — por isso é tão eficaz.

Quando bem executado, o público não sente que está vendo um anúncio, mas sim um objeto que faz sentido dentro da história. Entre os principais objetivos estão:

  • aumentar a visibilidade da marca
  • gerar interesse e desejo de compra
  • reforçar lembrança e reconhecimento
  • criar associações positivas com personagens e situações

A História do Product Placement no Cinema

Embora muitos pensem que essa prática é recente, o product placement ganhou força especialmente a partir dos anos 1980.

O marco histórico: “E.T.” (1982)

A equipe queria usar M&Ms na famosa cena em que Elliott atrai o extraterrestre. A marca recusou, e o time optou pelos Reese’s Pieces. O resultado virou case mundial.

Hershey investiu na parceria e, após o lançamento do filme, as vendas do doce cresceram 65%, superando até mesmo o concorrente.

Depois disso, Hollywood percebeu o potencial da estratégia:

  • marcas começaram a procurar estúdios
  • as produções economizavam com adereços
  • campanhas integradas se tornaram comuns

Ray-Ban renasce no cinema

Em Risky Business (1983), Tom Cruise usou o modelo Wayfarer, que havia caído em desuso. No mesmo ano, as vendas subiram para 360 mil unidades.

Outro caso icônico veio com Top Gun, elevando a popularidade do modelo Aviator.

Os anos 1990 e 2000

Agências especializadas surgiram, conectando marcas e produções. O product placement deixou de ser casual e virou indústria. A partir dos 2000, começou a tendência de brand integration, quando o produto passa a ter função dentro do roteiro.

Séries de época, como Stranger Things, ampliaram o conceito ao trazer embalagens retrô reais, como a “New Coke”.

Críticas ao excesso

Alguns filmes satirizaram a prática, como Wayne’s World. Já Fight Club e Tarantino criam universos próprios com marcas fictícias — um contraponto às integrações explícitas.

Ficção vira realidade

Algumas marcas fictícias se tornaram reais graças ao sucesso nas telas — caso clássico: Bubba Gump Shrimp Co., de Forrest Gump.


Tipos de Product Placement

Existem três categorias principais:

1. Plot Placement (quando o produto faz parte da história)

O produto tem função narrativa. Ele é essencial para a cena.

Exemplos:

  • Reese’s Pieces em “E.T.”
  • Wilson em “Náufrago”
  • Tênis Nike em “Forrest Gump”

É o tipo mais memorável e costuma gerar impacto imediato em vendas.


2. Script Placement (quando a marca é mencionada no diálogo)

Aparece diretamente na fala dos personagens.

Exemplo clássico:

  • De Volta para o Futuro: Marty McFly pede uma Pepsi.

Mais raro, pois exige autorização prévia.


3. Screen Placement (exposição visual)

É o tipo mais comum. O produto aparece na cena, sem ser mencionado.

Exemplos:

  • Óculos Ray-Ban em Top Gun
  • Carros Aston Martin e relógios Omega em 007
  • Smartphones, laptops e acessórios de marcas populares em filmes e séries modernas

Vantagens do Product Placement para as Marcas

1. Alcance massivo e duradouro

O mesmo filme circula por décadas: cinema, TV, streaming, plataformas digitais.

2. Alta atenção do público

Em uma sala de cinema, o espectador está imerso — som alto, escuridão e foco total.

3. Frequência natural

Um mesmo produto pode aparecer várias vezes ao longo da história, aumentando a lembrança.

4. Associação com celebridades e personagens

Quando o protagonista usa uma marca, o consumidor sente desejo de imitação.

5. Mais lembrança do que anúncios tradicionais

O contexto emocional favorece a memorização.

6. Contorna algumas restrições legais

Em certos países, produtos com limites rígidos de publicidade conseguem aparecer indiretamente através da narrativa.

7. Segmentação eficiente

A escolha do filme/série garante aderência com o público desejado — e o espectador não pode pular o anúncio.


Riscos do Product Placement

Nem tudo são flores. Entre os principais desafios:

1. Baixa percepção

Se a exposição é muito rápida, o público simplesmente não vê.

2. Falta de controle

Datas de lançamento podem mudar, filmes podem fracassar e personagens podem receber interpretações negativas.

3. Reação negativa

Casos exagerados podem parecer propaganda intrusiva.

4. Competição dentro da mesma obra

Duas marcas concorrentes podem aparecer no mesmo filme, confundindo o público.

5. Associação involuntária

A marca pode acabar vinculada a vilões, situações negativas ou crises narrativas.


Exemplos Famosos de Product Placement no Cinema e na TV

Alguns dos casos mais icônicos:

  • Reese’s Pieces – “E.T.”
  • Ray-Ban – “Top Gun” e “Risky Business”
  • Nike – “Forrest Gump”
  • Wilson – “Náufrago”
  • Aston Martin – franquia “007”
  • Omega – relógios em “007”
  • Audi – filmes do “Homem de Ferro”
  • Heineken – “Skyfall”
  • FedEx – “Náufrago”
  • Apple – diversos filmes e séries
  • Eggo – “Stranger Things”
  • Peloton – “And Just Like That”
  • BlackBerry – “House of Cards”
  • Jaguar – “The Equalizer”
  • Dell – “Succession” e outras produções
  • Cheerios – diversas séries
  • Zillow – “Grace and Frankie” e outras

E até o primeiro caso da história é curioso: em 1896, os irmãos Lumière exibiram uma marca de sabão em um curta.

Hoje, com o crescimento do streaming, o product placement se tornou uma indústria global estimada em mais de US$ 23 bilhões.


Conclusão

O product placement continua sendo uma das estratégias mais poderosas da publicidade moderna. Ele conecta marcas ao entretenimento, influencia percepções e gera impacto sem interromper a experiência do público. De presença sutil a papéis de destaque, os produtos ajudam a financiar produções, enriquecer narrativas e moldar comportamentos de consumo.

Da próxima vez que assistir a um filme ou série, fique atento: aquele item na cena pode estar lá por um motivo — e talvez influencie sua próxima compra.